Primeiras palavras

Publicamos esse Blog para tratar de temas como Educação, Teologia e religião. Abordaremos o espaço da escola como possibilidade de gerar crítica frente a tudo que vivemos na sociedade presente.
Grande abraço.
Paz e bem.
Paulo Henrique

terça-feira, 3 de maio de 2011

Gestão escolar e qualidade na educação




O ponto de partida da análise e reflexão sobre os desafios da gestão escolar se dá a partir da constatação de que a qualidade da educação enfrenta severa crise revelada pelos constantes resultados ruins da nossa escola.
A pergunta que repercute é: Ainda que tivéssemos volumosos investimentos financeiros na escola teríamos resultados de aprendizagem eficazes? As crianças de fato aprendem em nossas escolas? Sejam elas públicas ou privadas?
A que nos referimos quando falamos de qualidade na educação? O que será uma boa escola? Quais serão os critérios que dão a essa ou aquela escola esse adjetivo “boa escola”.
Se é verdade que o mundo da educação tem se debruçado sobre a importância da avaliação, é bem verdade que também que ainda não avançamos muito mais do que de uma reflexão excessivamente conceitual.
Segundo Carvalho e Paladini (2005), não há como melhorar aquilo que não se pode medir. Avaliar, monitorar, gerenciar resultados, planejar e replanejar são ações que, no cenário da escola, nem sempre estão muito claras para os educadores; docentes e gestores. Nossos resultados de aprendizagem não tem sinalizado os esforços que empreendemos na prática docente e gestora sobre a avaliação.
Para Garay e Uribe, fica evidente que o caminho da qualificação dos processos educacionais traduzidos em resultados evidentes de aprendizagem residem na qualidade docente, no contexto sócio-econômico e cultural dos alunos e na competente gestão da escola. Os autores postulam que a escola não tem ingerência sobre as condições sócio-econômicas e culturais dos alunos; contudo sobre a competência docente e sobre os aspectos da gestão há grande responsabilidade das instituições educativas. É necessário educar com qualidade e a escola é sim responsável por isso, porém necessita de políticas que sustentem tal intento.
Aqui talvez se apresente a centralidade da reflexão. O que é indicativo de qualidade da escola? A aprendizagem. Sobre essa última há uma definição que dá contornos para uma revolução copernicana no conceito de qualidade na aprendizagem.

Uma escola efetiva é aquela em que os alunos progridem para além do previsto considerando suas características sócio-familiares de origem. Por tanto, uma escola efetiva agrega valor extra à aprendizagem de seus alunos em comparação com outras escolas que atendem uma população similar. (Mortimore 1991, Scheerens 2000, Sammons 2001).


Nos apoiamos numa marca de qualidade, num indicador. Será necessário olhar pra fora dos muros da escola para verificar se há de fato progressão nos processos de aprendizagem; é preciso comparar e medir. Falamos de benchmarking. Para além de mera comparação concorrencial o benchmarking revela a busca pela melhoria, pois nenhuma escola é boa em tudo. Essa pretensa de depositária de todo o conhecimento já não se sustenta num mundo globalizado, de profundas modificações econômicas, de competitividade que gera desenvolvimento de tecnologias e conhecimentos construídos, reconstruídos e alterados em tempo real.
Os alunos precisam progredir e superar-se a partir do referencial que é sua própria realidade, seu contexto. Todos devem aprender, crescer. E a escola deve fomentar esse progresso.
Parâmetros de excelência para a escola é algo central na busca da qualidade. Inovação nos processos, desenvolvimento de novos procedimentos de ensino-aprendizagem, pesquisa por alternativas aos processos didático-metodológicos estabelecidos e, em alguns momentos, desconectados com a sua funcionalidade, são a busca da escola que pretende cumprir sua função social.
Para evidenciar aquilo que chamo como função social da escola, sua utilidade para o meio social, seu impacto para as pessoas que formam o corpo social, os autores Garay e Uribe sinalizam o conceito de accountability. No contexto da escola, o termo refere-se à ação de tornar público os resultados de aprendizagem. Nesse sentido, agrega-se valor ao processo de ensino.
Para cumprir seu papel com eficiência, a escola quando presta contas de sua atuação à sociedade, obriga-se a qualificar-se cada vez mais. Por meio da publicação dos seus resultados a instituição de ensino coloca-se em franco diálogo com os alunos, suas famílias e com a sociedade de forma geral. Por essa interlocução escola-sociedade, que a primeira vista poderia parecer invasiva, as instituições de ensino corajosamente revêem seus critérios e práticas educacionais e potencializam seus resultados.
Há que se ressaltar, no entanto, que o accountability não é uma ferramenta para “rankear” escolas. Publicar resultados significa oportunizar a escola uma aferição de sua efetividade junto àquela comunidade na qual está inserida e mais, prestar contas da qualidade do ensino prestado por um grupo de profissionais, num contexto sócio-econômico-cultural determinado.
Diante do exposto até aqui, fica evidente que o papel do diretor da escola nesse contexto é mister para a gestão eficiente dos resultados. Aqui supera-se, a larga distância, a compreensão de que o Diretor da escola é aquele burocrata que administra e não educa. No modelo de escola que traduzimos até aqui, não cabe outra figura se não a do líder. A gestão educacional de qualidade, complexa e profunda como é, necessita de um diretor capaz de gerir processos, recursos e procedimentos com olhos de educador e com visão sistêmica.
Na trama de relações intra e extra escola, cabe ao diretor garantir a seleção e formação de um docente bem preparado, de excelência técnico-científica e humana, uma equipe de apoio que de fato apóie e não obstacule as aprendizagens, além de estabelecer os processos curriculares adequados e desafiadores para garantir aprendizagens significativas.
Desse modo, o diretor será aquele que estabelece a intersecção entra as diferentes áreas da escola e as orienta de forma estratégica. Mobilizador da equipe, ele a “empodera” e delega, controla as ações, monitora os resultados, dá feedback de qualidade e em tempo real. Sempre está no fazer da escola. Faz parte e participa.



Para Aprofundar:

ALVARIÑO,C. ARZOLA, S. BRUNNER, JJ. RECART, MO e VIZCARRA, R. Gestão Escolar: Um estado de arte da literatura
CARVALHO, Marly M. PALADINI, Edson P. Gestão da qualidade: Teoria e caos. Ed. Campus, Rio de Janeiro, 2005.
GARAY, Sergio. URIBE, Mario. Direção Escolar Como Fator De Eficácia E Mudança: Situação Da Direção Escolar No Chile